Tarado animal
Crescer no campo tem inúmeras coisas boas. Toda a tranquilidade que a mãe natureza nos transmite está ali, ao alcance de todos, pronta para que o seu usufruto seja realizado em pleno! Mas por vezes, quem cresce no campo acaba por incorrer em momentos de profunda solidão, já que as pessoas mais próximas se encontram a longas distâncias e praticamente incontactáveis.
Anselmo morava no campo e era uma criança que vivia um tanto ao quanto isolada. Os meninos mais próximos encontravam-se profundamente afastados e até chegar a idade de frequentar a escola, Anselmo não sabia o que era outro míudo, fazendo dos animais da quinta os seus melhores e mais fiéis amigos.
Com a chegada da idade escolar, Anselmo finalmente contactou com outros petizes, apenas para se desiludir profundamente, já que descobriu que era com os animais que ele se entendia e que a escola não fazia parte dos seus objectivos futuros. Pastor era o que ele queria ser e isso já ele o era, sem precisar de desperdiçar horas enclausurado na cela que era a sala de aulas. Escolheu abandonar os estudos com a tenra idade de 11 anos e a 3ª classe acabadinha de completar.
A sua vida correu às mil maravilhas daí em diante. Com extenso rebanho de ovelhas à sua guarda, Anselmo dedicava-se alegremente a actividades pastorícias que o enchiam de prazer. Mas por volta dos 13 anos o rapazote começou a sentir alterações estranhas no seu corpo, pêlos surgiam em lugares inesperados, a voz alterava-se de forma anormal e começava a sentir fervores singulares em determinadas partes.
Anselmo indagou os pais acerca do que se passava consigo, apenas para receber como resposta um valente carolo para aprender a não incomodar em alturas indevidas, tal como a hora da ordenha do burro.
Passando o dia no campo, Anselmo começou a olhar para Fatinha, uma ovelha de raça Merinos, com um olhar especial. Estranhava o facto de se deitar a pensar nela, acordar a pensar nela, achar medonho o facto de alguém a poder tosquiar e de ao pé dela sentir uma expansão na região do baixo ventre que era uma profunda novidade. Um dia ao observá-la a pastar, ali de quatro, com sol a brilhar intensamente e com um cenário que invocava um qualquer quadro de Van Gogh, Anselmo decidiu seguir os seus instintos. Abeirou-se de Fatinha por trás e, num momento pleno de fulgor, consumou a paixão que sentia por aquele belo exemplar de ovino! Sentiu-se feliz, um homem realizado e durante tempos aperfeiçou diariamente o seu amor por ela. Mas um dia Anselmo reparou que Solange, uma outra ovelha do rebanho, olhava para ele de forma intensa e extremamente insinuante. Foi ignorando os intentos de Solange na medida do possível, até que um dia não resistiu e atraiçoou o seu primeiro amor ali mesmo, no pasto onde tinha perdido a sua inocência. E daí em diante Anselmo entrou numa espiral de predação sexual, consumando actos de paixão com todas as ovelhas do seu rebanho e até mesmo com um bode, numa ocasião em havia consumido umas sopas de cavalo cansado e já tava meio atravessado.
Este processo durou até ao rapaz entrar na idade adulta, momento em decidiu que tinha de experimentar outras coisas! Uma vida de amor com ovelhas já não o satisfazia na totalidade. Estava na hora de provar outros frutos (e outros úberes). E um dia Anselmo entrou no estábulo com um plano já delineado. Aproximou-se lentamente de Cremilde, a vaca leiteira de seu pai, e após colocar uma caixa da fruta no chão para ajudar a vencer os problemas de cota em relação a Cremilde, experimentou toda uma panóplia de novas sensações, muito para seu agrado! E daí em diante o seu rodísio sexual de várias espécies da quinta não mais parou! Aquilo foram porcas, foram galinhas, foram patas, foram saguins, foi tudo o que tinha 4 patas ou as costas viradas para a Lua.
Anselmo foi correndo tudo até lhe faltar apenas experimentar o néctar amoroso de Sónia, a burra. Aproximou-se dela, munido mais uma vez da caixa da fruta, e espetou com garra a sua farpa apaixonada na equídea! Contudo, Anselmo esqueceu-se de um pormenor. A bichinha não se encontrava no cio e como tal não estava propensa a receber demonstrações de afecto daquela índole. Como tal, ao sentir-se amada por Anselmo, respondeu com um coice dotado de violência extrema! Anselmo foi projecto uma boa dezena de metros e acabou por aterrar inconsciente no meio da pradaria!
Acordou no hospital local, com mazelas físicas diversificadas e de cura que se previa prolongada. Mas acima de tudo, acordou com uma consciência totalmente diferente! O abalo e o impacto provocados pela queda acabaram por ter nele um efeito de despertar! Anselmo percebeu que o destino do Homem não é amar somente os animais da quinta, mas sim todos os animais do mundo, num espiríto de fraternidade e amor universais!!
Assim, quando se encontrava curado dos seus malefícios, Anselmo pegou nos seus parcos haveres e partiu, rumo a esse imenso desconhecido que é o mundo, com vista ao cumprimento da sua homérica missão!
A última vez que tive conheciemnto da sua existência, Anselmo encontrava-se algures no Burundi onde tentava levar a sua mensagem de paixão a uma manada de gnus.
Creio que é um ser feliz! Que os deuses da zoofilia o protejam e guiem sempre o seu caminho para que possa evitar todas as cornadas.
Despeço-me com amizade. ET