domingo, maio 15, 2005

Tarado animal

Crescer no campo tem inúmeras coisas boas. Toda a tranquilidade que a mãe natureza nos transmite está ali, ao alcance de todos, pronta para que o seu usufruto seja realizado em pleno! Mas por vezes, quem cresce no campo acaba por incorrer em momentos de profunda solidão, já que as pessoas mais próximas se encontram a longas distâncias e praticamente incontactáveis.
Anselmo morava no campo e era uma criança que vivia um tanto ao quanto isolada. Os meninos mais próximos encontravam-se profundamente afastados e até chegar a idade de frequentar a escola, Anselmo não sabia o que era outro míudo, fazendo dos animais da quinta os seus melhores e mais fiéis amigos.
Com a chegada da idade escolar, Anselmo finalmente contactou com outros petizes, apenas para se desiludir profundamente, já que descobriu que era com os animais que ele se entendia e que a escola não fazia parte dos seus objectivos futuros. Pastor era o que ele queria ser e isso já ele o era, sem precisar de desperdiçar horas enclausurado na cela que era a sala de aulas. Escolheu abandonar os estudos com a tenra idade de 11 anos e a 3ª classe acabadinha de completar.
A sua vida correu às mil maravilhas daí em diante. Com extenso rebanho de ovelhas à sua guarda, Anselmo dedicava-se alegremente a actividades pastorícias que o enchiam de prazer. Mas por volta dos 13 anos o rapazote começou a sentir alterações estranhas no seu corpo, pêlos surgiam em lugares inesperados, a voz alterava-se de forma anormal e começava a sentir fervores singulares em determinadas partes.
Anselmo indagou os pais acerca do que se passava consigo, apenas para receber como resposta um valente carolo para aprender a não incomodar em alturas indevidas, tal como a hora da ordenha do burro.
Passando o dia no campo, Anselmo começou a olhar para Fatinha, uma ovelha de raça Merinos, com um olhar especial. Estranhava o facto de se deitar a pensar nela, acordar a pensar nela, achar medonho o facto de alguém a poder tosquiar e de ao pé dela sentir uma expansão na região do baixo ventre que era uma profunda novidade. Um dia ao observá-la a pastar, ali de quatro, com sol a brilhar intensamente e com um cenário que invocava um qualquer quadro de Van Gogh, Anselmo decidiu seguir os seus instintos. Abeirou-se de Fatinha por trás e, num momento pleno de fulgor, consumou a paixão que sentia por aquele belo exemplar de ovino! Sentiu-se feliz, um homem realizado e durante tempos aperfeiçou diariamente o seu amor por ela. Mas um dia Anselmo reparou que Solange, uma outra ovelha do rebanho, olhava para ele de forma intensa e extremamente insinuante. Foi ignorando os intentos de Solange na medida do possível, até que um dia não resistiu e atraiçoou o seu primeiro amor ali mesmo, no pasto onde tinha perdido a sua inocência. E daí em diante Anselmo entrou numa espiral de predação sexual, consumando actos de paixão com todas as ovelhas do seu rebanho e até mesmo com um bode, numa ocasião em havia consumido umas sopas de cavalo cansado e já tava meio atravessado.
Este processo durou até ao rapaz entrar na idade adulta, momento em decidiu que tinha de experimentar outras coisas! Uma vida de amor com ovelhas já não o satisfazia na totalidade. Estava na hora de provar outros frutos (e outros úberes). E um dia Anselmo entrou no estábulo com um plano já delineado. Aproximou-se lentamente de Cremilde, a vaca leiteira de seu pai, e após colocar uma caixa da fruta no chão para ajudar a vencer os problemas de cota em relação a Cremilde, experimentou toda uma panóplia de novas sensações, muito para seu agrado! E daí em diante o seu rodísio sexual de várias espécies da quinta não mais parou! Aquilo foram porcas, foram galinhas, foram patas, foram saguins, foi tudo o que tinha 4 patas ou as costas viradas para a Lua.
Anselmo foi correndo tudo até lhe faltar apenas experimentar o néctar amoroso de Sónia, a burra. Aproximou-se dela, munido mais uma vez da caixa da fruta, e espetou com garra a sua farpa apaixonada na equídea! Contudo, Anselmo esqueceu-se de um pormenor. A bichinha não se encontrava no cio e como tal não estava propensa a receber demonstrações de afecto daquela índole. Como tal, ao sentir-se amada por Anselmo, respondeu com um coice dotado de violência extrema! Anselmo foi projecto uma boa dezena de metros e acabou por aterrar inconsciente no meio da pradaria!
Acordou no hospital local, com mazelas físicas diversificadas e de cura que se previa prolongada. Mas acima de tudo, acordou com uma consciência totalmente diferente! O abalo e o impacto provocados pela queda acabaram por ter nele um efeito de despertar! Anselmo percebeu que o destino do Homem não é amar somente os animais da quinta, mas sim todos os animais do mundo, num espiríto de fraternidade e amor universais!!
Assim, quando se encontrava curado dos seus malefícios, Anselmo pegou nos seus parcos haveres e partiu, rumo a esse imenso desconhecido que é o mundo, com vista ao cumprimento da sua homérica missão!
A última vez que tive conheciemnto da sua existência, Anselmo encontrava-se algures no Burundi onde tentava levar a sua mensagem de paixão a uma manada de gnus.
Creio que é um ser feliz! Que os deuses da zoofilia o protejam e guiem sempre o seu caminho para que possa evitar todas as cornadas.

Despeço-me com amizade. ET

terça-feira, maio 03, 2005

Histórias de Vidas...

Constantino era um homem feliz. Pelo menos na maioria das ocasiões poderia ser assim considerado. A sua felicidade provinha maioritariamente de coisas simples como as sandes de coirato ou a revista Gina. Sempre considerou que com a simplicidade vem a felicidade e nunca almejou a grandes feitos. Pouco bastava para arrancar um sorriso da sua face, ganhando o dia quando observava um casal de cães enganchados após a prática do coito.
Contudo, como qualquer outro ser humano, Constantino sentia por vezes que havia um qualquer vazio na sua vida. Tinha momentos de nostalgia, em que experimentava a necessidade de ser amado para ser feliz, não lhe chegando as diárias ocorrências estapafúrdias que tanto prezava. Mas Constantino nunca foi um animal social. Sendo verdade que conservava um vasto grupo de amigos que muito o apreciavam (como os seus amigos dos AA) sempre apresentou algumas dificuldades no relacionamento com elementos do sexo oposto. Apresentava algumas características físicas que repugnavam a maioria das mulheres, como o tom esverdeado da dentição associado a um problema estomacal que lhe incutia um mau hálito permanente, uma vista a olhar pra ontem que o tornava ligeiramente estrábico e um 6º dedo na mão esquerda que saía da zona do indicador fazendo-o assemelhar-se a uma espécie de nativo de Plutão. A generalidade das mulheres ignorava-o por isto, nunca chegando a aperceber-se da sua riqueza interior e ele próprio assumia uma postura retraída tendo dificuldades em libertar-se. Os seus momentos de paixão, obtinha-os geralmente em bordéis de qualidade dúbia onde alguns euros amealhados no seu trabalho de almeida apagavam todos os seus defeitos físicos.
Mas um dia Constantino conheceu alguém especial. Viu-a no metro onde ela cantava graciosamente- "Tenha a bondade de me auxiliar" . E ele notou algo de diferente naquela pessoa que trazia consigo um tupperware com algumas moedas. Primeiramente sentiu o seu cheiro, deveras peculiar e indicador de escassez de água na sua residência mas acima de tudo apresentava um pormenor que o apaixonava, era cega! A cegueira desta mulher poderia ser o seu escape, ela apenas conheceria o bom que havia em si nunca lhe apontando as suas muitas deficiências físicas. Seu nome era Joaquina e habitava numa suite de cartão ali prós lados dos Anjos e que esplendor de mulher era ela. Constantino conheceu-a e amou-a. Deixando-se levar pela descoberta de alguém que não o via como o anormal que era perdeu-se de paixão. Embrenhou-se em longas tardes e noites de conquista onde soltava todo o romântico que havia em si. Bebiam muito e era nos vapores do alcoól que toda a sua verborreia apaixonada se libertava (já diziam os romanos que no vinho, a verdade).
Mas Constantino detectou um padrão, a mulher que com o grão na asa era só amor, transformava-se em alguém distante quando sóbria. Óh mistério de mulher!!! Constantino dúvidava se o amor de Joaquina era ele ou as garrafas de Biqueirão que ele constantemente fornecia! E um dia a sua dúvida foi-se como um copo de três! Ao chegar mais uma vez junto ao palácio de celulose encontrou Joaquina a ler em Braille o corpo de um africano!
Ainda meio atordoado, Constantino partiu apressadamente tendo como rumo a incerteza e a depressão, fazendo juras a si mesmo de nunca mais amar!!!! Descobriu mais tarde que o seu tintol foi trocado por amêndoa amarga de São-Tomé!
Foi-se amargurado e pensando que jámais um homem compreenderá alguma mulher. Decidiu mudar o seu rumo e encontrar novas paragens, onde um começo do nada seria um mar de oportunidades.
Achou-se nas Berlengas onde ainda hoje permanece na sua felicidade simples, rodeado de milhares de gaivotas que o amam e cujas cloacas dão pró gasto.
Tavez um dia volte, mas certo de que, tal como nós, as mulheres são algo que transcendem tudo o que é compreensível.
Quem sabe se não achará novamente no éter a capacidade de expressar paixões , esperançoso apenas que tudo não se apague na ressaca.

Despeço-me com amizade. ET