O ilusionista
Há algo de fantástico no mundo da magia. Não existe ninguém que em algum momento não se tenha deixado maravilhar pela visão de uma ilusão bem feita, querendo acreditar no que está perante os seus olhos mesmo sabendo que não será mais que um truque. Alguma coisa nos compele a crer que todos os fabulosos truques que os magos apresentam podem ser reais, que algo de transcendente está a acontecer realmente diante dos nossos olhos.
Zaphyr era ilusionista reputado, correndo meio mundo para maravilhar tudo e todos com as suas artes mágicas, fazendo multidões abrir a boca de espanto perante as impossibilidades que tornava possíveis para toda a gente ver. Mesmo o mais céptico se questionava perante a visão dos poderes de Zaphyr. A perfeição da sua arte provocava espanto e um imenso gáudio em todos quantos o viam.
Mas Zaphyr era um homem misterioso. Vivia praticamente isolado, congeminando durante meses ou mesmo anos as suas novas ilusões. Todo este isolamento tornava a aura de mistério em torno deste homem ainda maior, levando muitos a pensar que talvez ele fosse um alquimista capaz de proezas esotéricas.
Mas não. Zaphyr era sim um homem obcecado pelo amor e a sua dedicação às artes mágicas provinha de um desgosto amoroso sofrido ainda em tenra idade. Em jovem Zaphyr apaixonou-se por Amélia, sua colega de escola que era a mais esbelta das mulheres da aldeia. Perdido nos seus imensos olhos verdes Zaphyr cegou de paixão, passando seus dias a pensar como seria o seu futuro a dois. Mas Amélia era donzela muito requisitada e um dia disse ao pobre Zaphyr- "Óh meu granda pacóvio, só por magia é que eu podia olhar para uma arvéola como tu pá. Tem juízo e põe-te mas é nas putas!!".
Zaphyr chorou durante tempos e tempos até que, olhando um dia para o televisor, viu um homem a executar proezas fantásticas como que por magia. Era o Grande Albertz, ilusionista de excelência e verdadeira lenda, de quem se dizia que as ilusões eram reais e os poderes autênticos! E aí ele pensou - "Já sei como serás minha!! Seguirei o caminho deste homem, capaz de mil e uma ilusões e de todas as magias e vou criar a ilusão do amor!!!"
E assim começou a aventura de Zaphyr. Muniu-se de uma varinha e encetou os seus estudos na arte de dissimular. Coelhos, metros de pano, assistentes de nome Marlene, ramos de flores e conjuntos de napróns debroados a renda de Vila Viçosa, tudo ele tirou da sua cartola. Fez desaparecer montanhas, fugiu de coletes de força em chamas e pediu um quilo de fiambre em Jerusálem. Realizou dia após dia os mais difíceis truques que jámais algum mágico havia executado, imaginou e congeminou ilusões de ainda maiores dimensões e da mais pura dificuldade, mas não conseguia criar a ilusão pretendida. Amélia não era dele e perdia-se de amores por homens cujas maiores proezas fantásticas passavam por abrir minis com os dentes e causar chamas de grandes dimensões com a sua própria flatulência. Eles próprios não passavam de imensas ilusões nas quais ela acreditava esporádicamente, apenas para se aperceber que tudo era falso.
Pobre Zaphyr! Como um tolo, seguiu esta busca anos a fio até atingir a beira da loucura. Acordou num encontro com o homem que lhe iluminou o caminho o Grande Albertz.
- Grande Albertz -disse Zaphyr ao seu mentor - diz-me por favor que todas as ilusões são possíveis ou eu enloquecerei. De nada me serve ser capaz de fazer desaparecer o mundo se ela não pode ser minha, ajuda-me a criar a ilusão do amor!!!
- Pobre Zaphyr - retorquiu Albertz- não sabes tu que apenas podemos iludir quem quer ser iludido? Só quem crê, mesmo que no seu amâgo, que a nossa magia é real pode ser sofismado, e os sentimentos enganam-se, mas não se iludem.
Zaphyr partiu derrotado, nunca teria Amélia. No meio de tantas ilusões o iludido era ele.
Arrumou a sua varinha e nunca mais lhe deu uso, pois esta apenas funcionava com Amélia no pensamento, sendo que mulher alguma para além desta lhe arrebitaria a dita.
O seu ultimo truque, usou-o para desaparecer de cena, transformando-se a si próprio num desconhecido sem artes de mago. Tormou-se num vendedor de língua da sogra, bolas de berlim e cerveja freeeeeeesquinha na praia de Quarteira e leva os seus dias gritando pregões ao longo da areia, sempre com Amélia na sua mente mas já sem a ilusão de que algum dia irá amar.
Despeço-me com amizade. ET