quarta-feira, abril 27, 2005

Georgina on my mind...

Ai saudades...
Fui assolado por ternurentas recordações ainda hoje. Ao chegar a casa do trabalho gosto de ter o meu momento de relaxamento, que consiste no bebericar de uma macieira com gelo e no afagar carinhoso dos meus testículos, tudo isto enquanto oiço uma musiquinha.
Pois foi a música que ouvi que despoletou em mim sentimentos nostálgicos. Liguei o transístor e passava na rádio a voz rouca e melancólica de Billie Holyday executando com magnificência o tema "Georgia on my mind". E aí lembrei-me dela! Uma lágrima percorreu vagarosamente a minha face enquanto todas as imagens daquele Verão romântico passavam lentamente na minha bobine mental.
Um homem não sabe o que é viver enquanto não tiver amado e naquela estação eu amei. Amei como se deve amar e experimentei tudo o que o amor me tinha pra dar; alegria, amizade, dor, vómitos (quando me lembrei de experimentar saborear o dito antes de verificar o grau de higienização da coisa) mas acima de tudo a sensação de que esta vida só vale a pena quando se ama!
O seu nome era Georgina e era uma mulher de sonho!! Vi-a a primeira vez quando passei no IC1 em direcção ao Cercal. E lá estava ela! Tão pura e virginal mascando a sua chiclete, como quem vê o tempo passar sem qualquer preocupação. Parei de imediato! Acreditei estar perante um caso de amor à primeira vista. Abeirei-me dela, de início receoso, mas cada vez mais confiante à medida que me aproximava daquela entidade divina até que, estando tão perto que a ouvia respirar lhe sussurrei ao ouvido: "Desculpe, acredita no amor à primeira vista? Eu tão pouco acreditava até aos meus olhos terem tido o divino privilégio de a admirar. Sinto que fui agraciado com o mais belo dos dons ao encontrá-la, creio hoje ser capaz de amar." - Ela rodou lentamente o seu pescoço em minha direcção e, esboçando o mais sublime sorriso que jamáis havia visto respondeu-me : " Óh filho, desde que tenhas aí 3 contitos perdidos na carteira eu até no Pai Natal acredito. E por 1500 pauzitos faço-te um beijinho que te ponho a acreditar que o Eládio Clímaco é a Estrunfina!"
Fiquei encantado. Tinha achado o amor!!! Parti à aventura e posso dizer que, ainda que apenas por um fogacho, fui o mais feliz dos homens e senti-me tão grande como os maiores. Tudo acabou quando Georgina se levantou, limpou delicadamente os cantos da boca e partiu novamente para o seu cantinho. Eu ainda gritei : "Georgina!! Vem comigo! Abandona tudo o que tens e vem comigo, para que juntos sejamos um e a felicidade eterna nos pertença!". Georgina virou-se para trás e largou com um ar choroso as suas últimas palavras à minha pessoa : " Óh filho, se quiseres mais tens de abrir os cordões à bolsa, que isto fiado só a maiores de 99 e acompanhados pelos pais!"
Não tinha dinheiro. Deixei o amor da minha vida fugir-me por entre os dedos apenas por não ter comigo um punhado de moedas e por ainda não se poderem fazer pagamentos com cartão neste tipo de serviços.
Parti choroso, rumo ao meu triste destino pensando apenas se alguma vez voltaria a ver aquela ser celestial. Não mais voltei a sentir o que senti naquele dia e nos dias seguintes (nomeadamente as pungentes dores que sentia ao urinar pus), questionando-me hoje em dia se alguma vez voltarei a amar.
Lembro-me de todos estes belos momentos quando escuto aquela melodia e pergunto-me se alguma vez voltarei a conjugar o verbo amar. E como diz a canção:

"Georgina, Georgina
The whole day through
Just an old sweet song
Keeps Georgina on my mind

Other arms reach out to me
Other eyes smile tenderly
Still in peaceful dreams I see
The road leads back to you"

Despeço-me com amizade. ET

terça-feira, abril 19, 2005

Amor destilado

O poema que se segue é baseado em acontecimentos fictícios, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência (ou não).

Esquentamentos variados,
ferimentos provocados
P'lo amor

Comichões e erupções,
resultam de emoções
Do amor

Conheci-te já tocado,
mas fiquei apaixonado
É amor

E foi muito embriagado,
que passei um bom bocado
Com amor

Foi pelo copo de imperial,
que te vi, angelical
Só amor

E fixei-me no teu peito,
e fiz dele o meu leito
De amor

E acordei ressacado,
ainda meio abananado
Belo amor

E hoje fugi de ti,
não sei se me arrependi
Duro amor

Foi um amor destilado,
deu pra vazar um bocado
Louco amor!

Despeço-me com amizade. ET

domingo, abril 17, 2005

Hora de ponta

Há coincidências do caralho! E algumas delas fazem com que o nosso dia decorra de forma verdadeiramente fantástica, já que nos proporcionam momentos de puro deleite.
É comum nas grandes cidades acontecer um fenómeno provocado por um fluxo excessivo de pessoas numa determinada hora; a chamada hora de ponta. A hora de ponta ocorre normalmente duas vezes ao dia, uma primeira de manhã quando toda a gente se dirige ao local de trabalho e uma segunda ao final da tarde, por altura do regresso a casa. Eu devo confessar que umas destas alturas está no topo das minhas preferências diárias juntamente com o momento em que, ao acordar, eu afago carinhosamente os meus testículos e verifico que eles continuam por lá depois de mais uma noite, não tendo partido para qualquer outro local por vontade própria nem acabado na boca ensanguentada de uma qualquer prostituta mais furiosa por causa da parca higiene. Ora, o meu outro momento predilecto ocorre precisamente durante a hora de ponta do final do dia, devido a uma das tais coincidências. Então não é que a hora de ponta das 5 da tarde coincide com a minha hora de ponta!?
É verdade, é por volta das 5 da tarde que o meu fluxo sanguíneo se dirige em massa para a região do baixo ventre, causando em mim um período duradouro de enorme ponta. E, felicidade das felicidades, à hora de ponta eu tenho o prazer de ter de andar em transportes públicos completamente apinhados de gente, munido da minha assombrosa erecção crepuscular! E não há melhor altura para eu me dedicar a um dos meus desportos preferidos do Mundo: a roçadela discreta.
Este desporto é quase secular em Portugal e tem uma extensa legião de adeptos que o praticam com afinco todos os dias, quer seja no metro, no eléctrico ou no autocarro, já que é extremamente simples e muito compensador. Para o praticar basta apenas boa disposição, uma descrição nata e uma séria apetência para o esfreganço forçado. Para a sua prática é necessária a ocupação de um espaço estratégico no transporte, que permite um contacto aparentemente leviano com a rectaguarda das senhoras que passem por nós. Outra modalidade passa pela perseguição de um alvo específico ao longo do veículo, sendo que esta versão apenas está ao alcace dos mais experientes e destemidos, pois envolve um maior risco de recepção de cotovelada na barriga, pisanço no pé ou mesmo estalada na cara.
Devido a um problema de índole claustrofóbica, a utilização de roupa interior nem sempre faz parte dos meus planos, optando eu muitas vezes pelo chamado estilo à italiana. É esta forma de estar na vida, associada à minha pontual tusa, que me faz ser um feroz e respeitado praticante de roçadela discreta. Sou conhecido pela minha argúcia, sendo um praticante que ocupa com toda a naturalidade e sagacidade a porta de saída, provocando contactos constantes com tudo o que é peida roliça! Também a minha codícia e persitência são lendárias, estando nos anais deste desporto o dia em que eu percorri quase toda a linha azul (fui até alfornelos) cravado que nem uma lapa às costas de uma senhora que apresentava um indescritível nadegueiro, sem levantar a mínima suspeita. Nesse dia passei a ser cohecido como o arquitecto do metro, em homenagem ao mestre da traseira, o senhor Tomás!
Este desporto tem contudo coisas chatas e momentos menos bons. É sempre preciso estar muito atento pois por vezes o contacto com homens pode ser uma realidade, e para um atleta de alta competição a experiência pode ser traumática e de difícil superação. Já me esquivei a algumas balas e todos os dias rezo para que continue a conseguir desviar-me a tempo do saco de pão do Viegas, um calceteiro da Brandoa que veste calças 62 cuja passagem provoca normalmente danos apocalípticos nos praticantes desta modalidade, visto que o contacto é quase inevitável.
Recomendo a toda a gente que tem de passar pelas agruras da hora de ponta que faça como eu e que junte as duas pontas, transformando uma hora do dia que normalmente é tortuosa num momento de admirável bem-estar.

Despeço-me com amizade. ET

segunda-feira, abril 04, 2005

O cano tá roto...

Toda a gente tem no seu imaginário aquela bonita imagem de um canalizador agachado sob uma pia, exibindo à humanidade o seu gigantesco rego do cú, num espectáculo só comparável ao visionamento da falha de St. Andreas em todo o seu esplendor. Por falar na dita falha, creio que uma imensa vantagem que os povos anglófonos possuem em relação a nós é precisamente a expressão but crack, em contraponto a rego do cú, já que a expressão inglesa é sem dúvida muito mais melódica e poética do que a portuguesa, conseguindo demonstrar o esplendor da coisa de forma mais fiel. Diria mesmo que but crak é rock'n roll enquanto rego do cú é fado.
E é em alturas como esta, quando o calor se aproxima, que as senhoritas que se passeiam na rua começam a assemelhar-se em tudo ao Jeremias, o meu canalizador/serralheiro mecânico/perito em massagens tailandesas, em virtude da utilização dessa maravilhosa peça de vestuário que são as calças de cintura descaída. De facto, com a chegada do calor, as nossas vistas são permanente bombardeadas com visões de ranhuras, nas quais deveriam ser depositadas as moedas do amor, em actos de comunhão extrema tais como os que ocorrem entre homem e cabine telefónica, quando o nº marcado é o de uma linha erótica.
Eu acho que é um gesto bonito, que ajuda a que o dia se passe melhor, e que sem dúvida anima o ambiente. Em quase todos os locais por onde passamos temos visões, mais ou menos claras e mais ou menos agradáveis, do iniciozinho da fossa séptica destas musas ocasionais, provocando em nós momentos verdadeiramente inspiratórios e preenchedores ( preenchem pelo menos durante momentos, o espaço vazio entre a cueca e a braguilha).
Por tudo isto, venho por este meio agradecer a todas as mulheres que usam calças de cintura descaída por todos os momentos em que arrancaram um sorriso da minha cara. Que continuem e que nunca esqueçam o bem que fazem a todos nós!

Despeço-me com amizade. ET

Dúvidas....

Este domingo fui assolado por uma dúvida existencial, como ocupar a minha tarde?!
Este profundo dilema surgiu porque se me depararam dois programas de qualidade inquestionável, apesar de serem do mesmo âmbito.
Como entretenimento número um, existia a possibilidade de, à semelhança de outros domingos, ir para a A1 assistir a desencarceramentos em viaturas altamente danificadas depois de uma valente trolhada ou, em alternativa, ir pró Vaticano para ver o corpo embalsamado do Papa.
Nem um nem outro, acabei mesmo a tarde a lavar o carrito e depois vi tudo no telejornal da TVI.

Despeço-me com amizade.ET