Georgina on my mind...
Ai saudades...
Fui assolado por ternurentas recordações ainda hoje. Ao chegar a casa do trabalho gosto de ter o meu momento de relaxamento, que consiste no bebericar de uma macieira com gelo e no afagar carinhoso dos meus testículos, tudo isto enquanto oiço uma musiquinha.
Pois foi a música que ouvi que despoletou em mim sentimentos nostálgicos. Liguei o transístor e passava na rádio a voz rouca e melancólica de Billie Holyday executando com magnificência o tema "Georgia on my mind". E aí lembrei-me dela! Uma lágrima percorreu vagarosamente a minha face enquanto todas as imagens daquele Verão romântico passavam lentamente na minha bobine mental.
Um homem não sabe o que é viver enquanto não tiver amado e naquela estação eu amei. Amei como se deve amar e experimentei tudo o que o amor me tinha pra dar; alegria, amizade, dor, vómitos (quando me lembrei de experimentar saborear o dito antes de verificar o grau de higienização da coisa) mas acima de tudo a sensação de que esta vida só vale a pena quando se ama!
O seu nome era Georgina e era uma mulher de sonho!! Vi-a a primeira vez quando passei no IC1 em direcção ao Cercal. E lá estava ela! Tão pura e virginal mascando a sua chiclete, como quem vê o tempo passar sem qualquer preocupação. Parei de imediato! Acreditei estar perante um caso de amor à primeira vista. Abeirei-me dela, de início receoso, mas cada vez mais confiante à medida que me aproximava daquela entidade divina até que, estando tão perto que a ouvia respirar lhe sussurrei ao ouvido: "Desculpe, acredita no amor à primeira vista? Eu tão pouco acreditava até aos meus olhos terem tido o divino privilégio de a admirar. Sinto que fui agraciado com o mais belo dos dons ao encontrá-la, creio hoje ser capaz de amar." - Ela rodou lentamente o seu pescoço em minha direcção e, esboçando o mais sublime sorriso que jamáis havia visto respondeu-me : " Óh filho, desde que tenhas aí 3 contitos perdidos na carteira eu até no Pai Natal acredito. E por 1500 pauzitos faço-te um beijinho que te ponho a acreditar que o Eládio Clímaco é a Estrunfina!"
Fiquei encantado. Tinha achado o amor!!! Parti à aventura e posso dizer que, ainda que apenas por um fogacho, fui o mais feliz dos homens e senti-me tão grande como os maiores. Tudo acabou quando Georgina se levantou, limpou delicadamente os cantos da boca e partiu novamente para o seu cantinho. Eu ainda gritei : "Georgina!! Vem comigo! Abandona tudo o que tens e vem comigo, para que juntos sejamos um e a felicidade eterna nos pertença!". Georgina virou-se para trás e largou com um ar choroso as suas últimas palavras à minha pessoa : " Óh filho, se quiseres mais tens de abrir os cordões à bolsa, que isto fiado só a maiores de 99 e acompanhados pelos pais!"
Não tinha dinheiro. Deixei o amor da minha vida fugir-me por entre os dedos apenas por não ter comigo um punhado de moedas e por ainda não se poderem fazer pagamentos com cartão neste tipo de serviços.
Parti choroso, rumo ao meu triste destino pensando apenas se alguma vez voltaria a ver aquela ser celestial. Não mais voltei a sentir o que senti naquele dia e nos dias seguintes (nomeadamente as pungentes dores que sentia ao urinar pus), questionando-me hoje em dia se alguma vez voltarei a amar.
Lembro-me de todos estes belos momentos quando escuto aquela melodia e pergunto-me se alguma vez voltarei a conjugar o verbo amar. E como diz a canção:
"Georgina, Georgina
The whole day through
Just an old sweet song
Keeps Georgina on my mind
Other arms reach out to me
Other eyes smile tenderly
Still in peaceful dreams I see
The road leads back to you"
Despeço-me com amizade. ET